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Um Mundo de Serviços Ambientais – O Marketing Ambiental das Empresas no Século XXI



12/05/2017

Por: Robson Zanetti

Por Robson Zanetti
Antaeus é filho de Gaia, e invencível enquanto conseguir manter os seus pés na Terra. Por mais que tivesse sido arremessado ao chão por Hércules, ele voltava cada vez mais forte. A Terra é a fonte de sua força. Apesar do filho de Zeus ter descoberto seu segredo e acabado com sua existência, a mensagem é bastante clara: A Terra dá força ao filho de Gaia. Hoje, somos mais de 6 bilhões. Filhos contemporâneos da Mãe Terra, vem de longe o aviso para não deixar de ter os pés bens firmes junto a ela, sob pena de sucumbirmos frente a perspectiva de perder sua força. A alegoria representada pelo levantar Antaeus do solo, retirando o seu contato com a Terra, para tirar-lhe então a vida, está ganhando cada vez mais contornos modernos. As empresas hoje estão sendo chamadas para a luta pela sobrevivência da Terra. Sem a sustentação de Gaia, estaremos todos à mercê de um futuro incerto, que está sinalizando com aquecimento global, falta de água e extinção da biodiversidade, para citar apenas três dos principais problemas enfrentados pela população mundial. Para conseguir sobreviver, é preciso voltar a valorizar a nossa ligação de força com a Terra. Ocorre que ao longo do tempo, a produção industrial, a capacidade gerencial, a organização, o capital e outros, foram sendo cada vez mais valorizados e perseguidos pela sociedade. Ao distanciar-se dos valores relacionados com a Terra, a humanidade perigosamente se coloca em risco, como aconteceu na fábula Grega. É um sentimento de que todos comungam, em menor ou maior grau. As principais organizações mundiais, sejam elas assembléias globais, multilaterias ou bilaterais, assim como empresas multinacionais e corporações de todos os tamanhos, tem atentado para esse fato e, em conjunto, buscado soluções. A mais promissora delas parece ser a valorização e o pagamento por serviços ambientais. Serviços ambientais são, por definição, prestados pelos ecossistemas para prevenir, evitar ou mitigar os efeitos indesejados dos produtos ou serviços da atividade humana. O Pagamento por Serviços Ambientais é uma forma de valorizar essas ações que os ecossistemas fornecem, livremente, para toda a humanidade. Existem mais de 30 diferentes serviços ambientais agrupados em quatro classificações principais (suprimento, cultural, regulatório e de suporte). O termo “serviço”, vem do latim servitium (condição de escravo), o estado de que é servo, no dever de servir. São serviços prestados pela Terra, através de seus ecossistemas, para o bem-estar humano. Serviços são ações que satisfazem imediatamente necessidades de outros indivíduos. São coisas intangíveis. O Setor é responsável por mais da metade do PIB e emprego das economias modernas. Serviço é ainda uma espécie de trabalho. Pode haver trabalho, sem que haja relação jurídica, mas só haverá serviço no bojo de uma relação jurídica. Portanto, não haverá Pagamento por Serviços Ambientais sem regulamentação jurídica do mesmo. Flagradas praticando toda forma de ação destituída da preocupação com o meio ambiente, as empresas tem sido alçadas com força para longe da Terra – criou-se uma dicotomia entre homem x natureza. A atividade empresarial está sendo posta, pela própria sociedade, cada vez mais afastada de qualquer laço com o planeta que a insere. Em se deixar levar por esse movimento de artificialização da atividade empresarial, os empreendedores modernos fatalmente cairão, vítimas da herculanea competitividade do mundo globalizado. As empresas são fruto da sociedade, assim como Antaeus é filho de Gaia, e estão atentas para esse movimento “ambientalista”. Na busca por se aproximar novamente da Terra e recuperar sua força, o movimento empresarial está descobrindo nos Pagamentos por Serviços Ambientais – PSA, uma forma segura de recuperar seus laços com Gaia. Do problema surgiu a oportunidade. Se são as empresas que destroem o planeta, são também as empresas que o constroem. As empresas que investem na recuperação da Terra, conseguem alcançar o equilíbrio da equação da vida empresarial (a neutralização de seus impactos ambientais) e, de quebra, tem em mãos uma poderosa ferramenta de marketing ambiental. São os sistemas de PSA, com destaque para carbono, água e biodiversidade. As empresas que estão se posicionando rapidamente junto da Terra, vão ganhando novamente suas forças e se preparando para enfrentar os desafios da economia ambiental, seja ela de restrição de carbono, de limitação da água ou de conservação da biodiversidade, citando apenas esses três aspectos. Os PSA são uma forma da empresa demonstrar que acredita e cuida da Terra, que em retribuição lhe concede poder para continuar sua luta, na conturbada arena do comércio global. É disso que trata a Certificação de Carbono, a Certificação de Água e a Certificação de Biodiversidade (pode incluir ainda dezenas de outros serviços – polinização, beleza cênica, inspiração, aromas etc). São ações das corporações para retirar gases do efeito estufa do ar, manter e melhorar a quantidade e qualidade da água e cuidar da biodiversidade. Essas iniciativas empresarias são uma forma de trazer as atividades humanas mais para perto da Terra, reconhecendo sua importância e participando dos esforços para mantê-la viva e poderosa. Em todo o mundo, começam a surgir e se consolidar iniciativas empresarias voltadas para a redução, mitigação e compensação pelos impactos que as atividades humanas trazem ao meio ambiente. Essas ações estão centradas na capacidade de melhorar as características ambientais da produção. As empresas estão realizando inventários dos impactos ambientais das suas unidades e de toda a cadeia produtiva, como forma de iniciar um controle, promover medidas de redução e mitigação e avaliar a necessidade de compensação dos seus impactos ambientais. Com essa iniciativa, elas podem ganhar o direito de receber certificados de neutralização ambiental de suas operações. O certificado de neutralização atesta que uma determina empresa realizou algum tipo de investimento, direto ou indireto, para recuperar o dano ou impacto que causa em um determinado serviço ambiental fornecidos pelos ecossistemas. Podem ser impactos na composição de gases da atmosfera, na qualidade e quantidade de água, na biodiversidade e assim por diante. Para mensurar os impactos existem diferentes metodologias, incluindo para mensurar as emissões de GEE, a quantidade e qualidade de água (azul, verde, cinza e virtual) e a biodiversidade. Essas metodologias são empregadas para realizar o inventário dos impactos ambientais. Esses inventários podem ser certificados por auditorias externas contratadas. O mesmo ocorre com os inventários de serviços ambientais dos ecossistemas, que podem ser certificados por diferentes sistemas. Exemplos são as Reduções Certificadas de Emissões – RCEs, os VCU (do inglês Voluntary Carbon Units), a Pegada Hídrica (Waterfootprint), a Pegada Florestal (Forest Footprint), a Pegada Ecológica (Ecological Footprint), o WaterSense (certificação hídrica da Agência Ambiental dos EUA – EPA), o Programa de Neutralização da Biodiversidade nos Negócios – BBOP (Business and Biodiversity Offset Program), os certificados ISO para emissões de carbono, neutralização de carbono e água (em elaboração). Esses programas desenvolveram metodologias variadas para identificar, avaliar, monitorar e valorar os mais importantes serviços ambientais prestados pelos ecossistemas, em suas diversas escalas (locais, bacias hidrográficas, biomas, ecossistemas, países e global) e buscando o equilíbrio entre as demandas sociais, econômicas e ambientais do desenvolvimento. Os selos de certificação validam o comprometimento ambiental dos negócios. Dessa forma, com a adoção de medidas de promoção do marketing ambiental dos empreendimentos, os investidores e as empresas ganham uma proteção extra contra os riscos que podem afetar a implantação de suas atividades. As empresas certificadas podem estar preparadas para competir dentro de um cenário econômico e social que, cada vez mais, aprecia as medidas de caráter ambiental tomadas pelos negócios. Os impactos positivos da adoção de práticas certificadas de neutralização dos impactos ambientais dos empreeendimentos, geram resultados que vão facilitar, por exemplo, a participação em audiências públicas e o processo de licenciamento ambiental dos empreendimentos. Sistemas de auditoria independente, que garantem a correta avaliação, mensuração, monitoramento e neutralização dos impactos dos empreendimentos na prestação de serviços ambientais dos ecossistemas em que se inserem, são uma forma de facilitar a análise dos processos pelos técnicos dos órgãos ambientais. Muitas das instituições que fornecem os selos de certificação possuem acordos de cooperação técnica ou observadores convidados dos próprios organismos ambientais – uma forma de garantir transparência e confiabilidade aos sistemas. O licenciamento ambiental de empreendimentos que demonstram a capacidade de receber esses selos, pode ocorrer de forma mais ágil. Os empresários, como ninguém, sabem que o mundo dos negócios é uma eterna luta contra os poderes da regulamentação, competição e auto-sustentabilidade. Para enfrentar essa batalha munido de força, eles estão descobrindo a cada dia que a Terra é o melhor aliado. Defender a Terra é uma forma de defender os negócios.

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